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A Liturgia: o que é?
Pela Encarnação, o Cristo realiza a vontade salvífica do Pai mediante o Mistério pascal, isto é, sua Paixão, Morte e Ressurreição. Os Apóstolos, com a força do Espírito, derramado em Pentecostes, são enviados a proclamar e realizar em todo o mundo e até o fim dos tempos, essa obra salvífica – o “mysterium salutis” ou mistério da salvação – através da celebração da Liturgia e, assim, inserir os homens no Mistério Pascal do Cristo. Como prometera (Mt 28,20) o Senhor Jesus está sempre presente na sua Igreja, na força do Espírito Santo, de tal modo que as ações litúrgicas são o exercício concreto do Seu sacerdócio.

Por isso, a Liturgia é o cume e a fonte da vida da Igreja e também da espiritualidade beneditina. Ela deve explicitar-se na totalidade da vida espiritual do monge e, por sua vez, reconduzi-lo à ação litúrgica como ao seu vértice e seu auge. A celebração da Liturgia é para o monge a consistência e a envergadura de sua espiritualidade.

A Eucaristia, centro da Liturgia.
As ações salvíficas do Cristo (seu Mistério Pascal) tornam-se presentes no mistério do culto, primeiramente pelos sacramentos. E é na Eucaristia, o “sacramento dos sacramentos”, que a Igreja celebra todo o mistério do Cristo, o “mistério da fé”. Ela é o centro da Liturgia e da espiritualidade beneditina, o ápice para o qual se dirige toda a vida da comunidade. É o momento e o lugar precípuo do encontro da comunidade com Deus, fonte da sua vida de caridade e da vida espiritual de cada monge. Reunindo em torno do altar os membros da família monástica, a Eucaristia, sacramento da unidade, realiza sacramentalmente sua união fraterna no Corpo de Cristo e, desse modo, a unidade entre os irmãos se expressa e se firma na celebração eucarística.

A Liturgia das Horas, medula da espiritualidade monástica.
São Bento ensina que o monge nada deve antepor ao amor de Cristo (RB 72) e nada preferir à Obra de Deus (Opus Dei) ou Liturgia das Horas (RB 4).

O quê é a Liturgia das Horas? 
É a oração do Senhor Jesus Cristo, pela qual Ele apresenta ao Pai, com Seu Corpo que é a Igreja, pelo Espírito Santo, o louvor perfeito, “a ação de graças que lhe agrada e que é salvação para o mundo inteiro” (Missal Romano, IV Oração eucarística)

A Liturgia das Horas expande, para as diversas horas do dia os louvores e as ações de graças como também o memorial dos mistérios da salvação (Instrução Geral da Liturgia das Horas, 12). Diz ainda essa Instrução que, na Liturgia das Horas, a comunidade eclesial exerce uma verdadeira maternidade para com as almas que deve levar a Cristo…“aumentando o Povo de Deus por uma misteriosa fecundidade apostólica”.(ib. 17.18).

Também as Constituições da CBB escrevem: “A Liturgia que a comunidade realiza na celebração do Opus Dei, ação de Deus e dos monges, constitui a medula da espiritualidade monástica” (147). Como meio de uma participação frutuosa na Liturgia das Horas, a IGLH toma o ensinamento de S. Bento na sua Regra: “estejam de tal modo a salmodiar que a mente concorde com a voz” (RB 19).

Senso eclesial
Portadora e transmissora da vida do próprio Deus, por sua íntima união com Cristo, a Igreja é a continuação do Cristo-sacramento. Não há cristianismo sem Igreja e não há Igreja sem Liturgia. O monge, ciente disso, vive a comunhão com Deus no Corpo Místico de Cristo, alimentado pelo seu Corpo Eucarístico.

A comunidade monástica é uma expressão do mistério da Igreja, sobretudo na sua índole comunitária e sua dimensão escatológica e, por isso, comunga intensamente da sua vida, pelos sacramentos, pela Liturgia das Horas e pelas múltiplas formas de servi-la, tendo nela como função característica o “ministério da oração”.

A Liturgia que a comunidade realiza na celebração do “Opus Dei” supõe de um lado a lectio divina para que o louvor possa ser “pleno e sonoro” (Hino Lauda Sion). De outro lado, conduz o monge ao estado de contemplação que, por sua vez, fecunda a sua lectio divina, impele a vida de oração contínua e informa todas as suas atividades”(CBB 147).